Uma mensagem de ódio, para ser de
qualidade, exige um destilar de palavras fermentadas num alambique específico,
gota a gota, que a seguir são refinadas para repousarem com tempo em barricas
de rancor, para adquirirem a acidez apropriada ao fim a que se destinam. Há
mesmo um medidor de acidez de palavras, instrumento científico.
A excelência de frases de ódio
encontra-se no equilíbrio da maceração das palavras, no processo de fermentação
e posterior assentamento no receptor rancoroso, a barrica.
Escrever uma boa carta
de ódio é um trabalho de alquimista.
Sendo fácil cair na ofensa brejeira, o escrevente deve munir-se de uma grande concentração, ser um praticante avançado do bom gosto a dirigir uma ofensa conscisa, para não se vir a perder no impropério boçal, na asneirola, no bota-abaixo, afinal o caminho mais fácil do ódio.
Sendo fácil cair na ofensa brejeira, o escrevente deve munir-se de uma grande concentração, ser um praticante avançado do bom gosto a dirigir uma ofensa conscisa, para não se vir a perder no impropério boçal, na asneirola, no bota-abaixo, afinal o caminho mais fácil do ódio.
Para ser boçal, a
pancadaria, que é mais eficaz do que a palavra, mas muito menos poética.
Uma boa carta de ódio é uma obra de
filigrana, difícil de executar, mas em calhando bem, transporta o remetente
para um nível superior, arrasando completamente o destinatário, a sua vida
pessoal, a dos que o rodeiam, e fica como nódoa que nunca mais sai.
Dado o carácter volúvel e o ambiente
extremamente venenoso em que se trabalha este tipo de mensagem, o preço da
execução de uma obra destas é ligeiramente superior ao das mensagens melosas.
É um trabalho de risco, exige muita
competência e experiência, mas o efeito final pode ser sublime.
Já não se enviam mensagens de ódio como
antigamente. Nós enviamos, mas não somos baratos.
Comentários
Enviar um comentário