Joguei as mais desabridas partidas de xadrez sem saber jogar. Fi-lo
por deferência ao meu anfitrião, para aliviá-lo do tédio e pagar-lhe dessa
forma, ainda que desonestamente (eu não sabia jogar e disse que sim), o seu
acolhimento.
Claro que quando movi as primeiras peças, na primeira partida,
ele entendeu a minha trapaça, mas perdoou, e sem nunca o ter dado a entender,
com uma grande delicadeza foi-me ensinando xadrez, com sotaque basco.
Houve mesmo um dia, que me deixou ganhar. Aí entendi eu que a
vida não nos traz coincidências e que mesmo os acasos são jogadas que o grande
jogador de xadrez tem preparadas para nós.
Tudo isso aconteceu num tempo já a matizar as memórias, num
tempo em que um bom jogador de xadrez com uma vida entediada, me abrigou dos
desconhecidos, dos medos muitos da desassossegada aventura de ser adulto.
A ti, José, onde estejas.
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