Era uma viela resiliente.Pode-se afirmar dessa forma a capacidade vácua de um não-ser, ter uma característica só dos seres que são?
Um calejo. As outras, vizinhas suas, foram evoluindo, devagar e ponderadamente, até serem ruas: assim crescem as povoações.
Esta deixou-se ficar como sempre foi: quase um impasse a acabar num eucaliptal cerrado. deu-lhe o mal da perguiça. Tendo só dois transeuntes ocasionais, não teve necessidade de se expandir.
Sabemos então que viviam duas pessoas nesse quelho, desde que ambos se conheciam: a viela e as pessoas. Foram mesmo estas que a aplainaram, depois com gravilha,para usufruirem de um acesso livre de sua casa até ao arvoredo saudável, um tipo de jardim privado – dizem que fumigações com folhas de eucalipto são boas para as vias respiratórias - numa aldeia no campo.
As pessoas fizeram as suas vidas - boas ou más não interessa - e ultimamente porque já tomavam comprimidos demais e as energias eram escassas, não aguentaram o sufoco daquele fogo todo. As árvores que estiveram sempre ali, apagaram-se. Só restou a viela, teimosamente resiliente, agora a dar para o nada.Inútil.
Ela sobreviveu mas perdeu a razão de ser, e uma vez perdida, é o cabo dos trabalhos e das impossibilidades reencontrá-la de novo. É quase, quase como perder o juízo.
Ficou um canelho inútil e disfuncional – como que se diz agora - mas resiliente. Um exemplo para outras nas mesmas condições.
É uma pena que seja assim, mas há vieses na vida que nunca ganham balanços de importância.
É uma pena que seja assim, mas há vieses na vida que nunca ganham balanços de importância.
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