O meu pai desfolhou a vida a equilibrar-se nos patins, sem saber andar de patins. Não o critico, porque eu desfolho a minha equilibrando-me sei lá em quê, sem saber se me equilibro o suficientemente bem para andar sem quedas aparatosas. O meu pai gostava de chamar atenções sobre si e muitas vezes arriscava números complicados. Era um provocador, e como em todas as artes circenses e outras, mesmo as dos gestores de fundos, umas vezes acerta-se, outras, menos. A firma onde trabalhava – era assim que se chamavam as empresas nesse tempo – tinha uma fábrica de lâmpadas, na zona oriental de Lisboa, e fabricava os melhores televisores do mercado. O mercado sul-americano e especialmente o brasileiro, tinha um grande potencial de consumo de televisores, e devido à proximidade de termos uma língua mais ou menos parecida, os executivos holandeses da firma, consideraram Portugal como a plataforma de exportação de televisores para a América latina. Alugaram um Jumbo da Boeing e o meu pai,