O meu tio José era funambulista, mas a família não o sabia e mesmo sabendo, pelo nome, não iam lá, ao âmago, que é o significado que as palavras dão às coisas. Mesmo que o meu tio lhes explicasse, eles nunca iriam compreender como é que uma pessoa desperdiça uma vida equilibrando-se numa corda a não se sabe quantos metros de altura do chão. Para quê? O que queria ele demonstrar ao mundo, com essa atitude? As irmãs pensavam que ele era limpa-chaminés, o que já era uma aproximação, mesmo que discreta, à sua verdadeira actividade profissional. Os cunhados, homens brutos e pouco instruídos, só falavam de futebol e mulheres. Como tal, temas como o do funambulismo não eram considerados nem tidos em consideração. Por isso, pouco ligavam a esse cunhado. Se lhe tivessem alguma vez perguntado, ele ter-lhes-ia dito que era um desafio de superação, que se tornou obsessivo com o passar do tempo. Que até tinha vertigens e medo das alturas, mas era uma pulsão mais forte do que ele e por isso insis