Fecha os olhos, vá, eu sou amiga do escuro e ele disse-me que também gosta de ti, não tenhas medo, puxa o lençol, aconchega-te, e descansa meu menino, eu velo por ti . E ali ficava ela, sentada ao lado da cama, cansada de um dia cansado, a velar por mim, era o que sabia fazer melhor. Vejo-a a sorrir, olhos mínimos, pretos, rútilos, grandes pequenos olhos os seus. Franzina, muito magra, quase a desfazer-se, sem cuidado especial no vestir, a velar por mim. O corpo, como nenhum outro, resistiu às intempéries dos dias que se sucedem, a biologia cumpriu-se no que é expectável; a alma que se calhar não existe ou foi para partes incertas; o espirito, é o quê?; nada ficou, mas ficou tudo: a imagem tridimensional do seu corpo, do seu rosto, onde está sempre bem vestido um sorriso honestíssimo e bom, e os olhos, atentos, agudos, que veem todas as panorâmicas do mundo. Só não ficou a voz, esfumou-se como a areia escapa das mãos. É um grande esforço, faz tanta falta o som da voz. Perdeu-se. Qua