** Quando estou a voar, vejo-o como uma forma natural de ser que sinto e sonho. Eu voo mesmo. E praticamente todos os dias, nem sei dizer se ando mais ou se voo mais. Voo muito e bem. Executo esse movimento, esse impulso, sem nenhum esforço, como sendo automático em mim, o que dá garantias que na realidade, seja ela qual for, eu voo. Por vezes faço voos rasantes às coisas e fico com uma sensação de que a qualquer momento vou aterrar numa cabeça de um transeunte distraído com o que vem do alto e que está a passear o cão sem esperar que algo lhe caia do céu, ou numa mesa de piquenique apetitosamente posta num jardim, onde acabo por estragar o almoço de um casal nova-zelandês que veio fazer Erasmus. Enervo-me e fico mais desajeitado, o que se reflecte na qualidade do meu voo. Raramente, quando estou assim não consigo ganhar altitude, apesar do esforço imenso que faço no que supostamente será bater as asas, mas a verdade é que nunca as senti, nem a bater nem sem ser a bater, e não me lem