O meu pai tinha sorte com os números, dizia ele. Uma vez, o meu avô esteve hospitalizado, não sei porquê, mas nada de grave, e ele foi visitá-lo. Quando saiu ficou com o número da cama onde ele estava a ecoar na cabeça. Era o número doze. Incomodado por uma fé súbita e muito intensa, palavras suas, comprou uma cautela de lotaria com essa terminação. Saiu-lhe o prémio grande e tivemos o nosso primeiro automóvel, um Toyota amarelo, com dois patos colados, nas laterais do capot . Já tínhamos uma moto (a minha) amarela, um capacete (o meu) amarelo e a agora um carro. Não sei se o meu pai pretendia açambarcar para si todo o amarelo do mundo, mas estava no bom caminho (e dos patos então nem falar. Penso que era para incomodar as pessoas, principalmente a mulher e os filhos, ele gostava disso, apesar de lhe termos dito inúmeras vezes que não era uma boa ideia). Tendo uma viatura, tínhamos de lhe dar uso e fomos à descoberta do Algarve, a cidade de Lagos. Ficámos num quarto alugado, com ban