Não havia serviço de lavagem de carros. Quem tinha motorista era ele que os lavava e limpava, quem não tinha, arranjava-se, uns com mais outros com menos aprumo. Havia quem nunca lavasse os carros. Sempre houve e sempre haverá negacionistas. O meu avô que subiu à custa dos seus sapatos mas cansou-se no primeiro andar, teve o seu primeiro carro depois da reforma das ambulâncias postais. Não era bombeiro, era funcionário dos correios, e as ambulâncias postais eram vagões, geralmente na cauda dos comboios que descarregava e carregava o correio e as encomendas nas paragens e apeadeiros onde os comboios paravam. Reformou-se aos quarenta e sete anos e como arranjou logo um novo emprego de amanuense num escritório de despachantes de alfândega, comprou um carro. Antes teve de tirar a carta. Não praticou muito. Um Simca, um carro franco-italiano. Parecia um carro de estadista, era o único que tínhamos. O meu avô praticamente só andava de carro, no seu, aos domingos. Ou para irmos todos os da