Que tal se arriscamos delirar um pouco? Que tal se cravamos os nossos olhos para além da infâmia, tentando adivinhar outro mundo que seja possível e fascinante? O ar, limpo, puro de todo o veneno que não provenha dos medos humanos e das tóxicas paixões humanas. Nas ruas, os automóveis serão abalroados pelos cães e outros seres livres que nelas se passeiem; As pessoas não serão sequestradas pelo automóvel, nem serão programadas pelo computador, nem serão compradas pelo supermercado, nem tão pouco vistas pelo televisor, impávidas, hipnotizadas de tédio; O televisor deixará de ser o membro mais importante da família e será tratado como a tábua de passar a ferro ou a máquina de lavar a roupa; Acrescentar-se-á aos códigos penais o delito da estupidez, que cometem aqueles que vivem para ter ou para ganhar, em vez de simplesmente viverem, sem mais, como canta o pássaro sem saber que o faz e como a brinca a criança sem saber que brinca, vivendo a eternidade nesse momento único, que...