Depois do inverno em que o céu plúmbeo não
autorizou o voo das aves, agora é uma explosão de vida, de chilreios
estridentes. Esta tela que está sobre nós, enche-se de actores principais e
secundários e de muitos figurantes.
As andorinhas parecem crianças a brincar,
elétricas, incansáveis. Voam com grande destreza, enchem a paz dos ares, com a
sua vivacidade, são os últimos personagens a entrar em cena, antes que se abata
sobre todos, observados e observadores, o crepúsculo, que na primavera e quando
os céus estão despejados e limpos, se pintam de cores extravagantes,
contrastando com o fundo azul.
Caída a noite, vêm os sonhos, e aí já
podemos sonhar que estamos a voar, andorinhas somos, ou não, mas o prazer é
imenso e a sensação de liberdade sem qualificação. Batendo as asas que não
temos, subimos, subimos, até altitudes impensáveis, e depois, ajudados pelas
correntes de ar, deixamo-nos a flutuar, apreciando a beleza das paisagens e
tentando adivinhar os pormenores do que avistamos em terra, e de repente, sem
aviso e só porque sim, afundamo-nos num voo picado e trepidante, para acabarmos
por aterrar tranquilamente na cadeira que ocupamos ao final do dia quando
víamos o voo das andorinhas. E não dando conta, despertamos, já é de novo
manhã, e abrindo a janela para que entre a luz, lá andam elas, as andorinhas, sem descanso, fazendo tropelias e sendo
felizes.
Nós, é nos sonhos que nos compensamos. É nesse lugar irreal e fantástico
que somos todos os papéis. Heróis e vilões, ou simplesmente homens a brincar
como os meninos, com as imaginações do lugar onírico onde vamos parar quando
adormecemos.
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