OS melhores croquetes da via láctea e arredores. Os rissóis de camarão igual. Eu não conhecia outros - nunca tive espírito científico -, pelo que estes ganhavam sempre, eram imbatíveis e deliciosos.
No tempo em que se cozinhava em casa e os
locais de venda de comida pronta a deixar-se comer ainda não sabiam que não
tinham sido inventados, até mesmo os supermercados, que andavam na barrigas das
suas mães, a Zínia era pioneira do pague menos e fique bem servido; leve a
comida embalada e é só comer sem ter que se dar lume aos bicos de gás.
Foi dos primeiros estabelecimentos a ter
aquelas redomas de vidro com frangos espetados em fila, a andarem à volta como
num carrossel de feira, neste caso para galinhas póstumas. Ganhavam uma cor
rosada e não era pelo esforço de se afoguearem, mas ao fim de não sei quantas voltas
que nunca as contei.
Era por ordem de chegada de cliente, quando
ainda não havia aquele sistema de senhas numeradas, uns mais espertos do que
outros, ou com mais pressa de fecharem contas com a agência funerária, a
passarem à frente, e os outros a saberem que eles eram parvos e a sorrirem sem
conflito.
Atendidos em frente a um longo balcão com a
exposição apetitosa dos pratos, dos acompanhamentos, dos salgados, dos doces.
Atendidos por uma orquestra afinada de colaboradoras (que lindo nome), de bata
branca que não só serviam os pedidos como faziam psicoterapia de grupo, aos que
se punham a jeito, boas ouvintes, boas conselheiras.
Elas tratavam a maioria dos clientes pelo
nome, estes, pelos seus nomes as tratavam. Um atendimento personalizado, onde
obviamente, tínhamos as nossas preferências. Muitas vezes enquanto aguardava
pela nossa vez, pela vez da minha avó ser atendida, eu fazia uma grande força
mental, a canalizar a minha vontade, para nos calhar a dona tal ou a dona tal.
Ainda hoje faço grandes forças mentais, mas confesso que continuo a ser um
fraco canalizador.
A Zìnia, era o modelo de um estabelecimento
de restauração a peso, moderno, democrático, em que as pessoas de um lado (os
que compravam) e as do outro (as que serviam), só as separava o balcão, porque
eram todos pessoas respeitáveis, educadas e de trato simples.
Com o tempo, a Zínia modernizou-se e alguns
fregueses já não compram croquetes porque deixaram de ter necessidade de se
alimentarem, mas outros, mais recentes apareceram, e são amavelmente atendidos
por rostos também mais jovens e algumas senhoras que ainda foram
teletransportadas desse tempo de antigamente, e continuam vivazes (são as que
eu me esforço, mentalmente, com a senha arrepanhada na minha mão, para que me
atendam e chamem pelo nome, o que me derrete de vaidade).
Os frangos já não têm tanta saída, mas lá
continuam, entretidos, a bronzearem-se na redoma giratória. Os croquetes deixaram
de ser os melhores de todas as constelações, e uma vez por outra, com respeito
aos de antanho, pedimos um, na esperança de que tenham recuperado a sua
autoestima e se apresentem deliciosos, o que infelizmente não acontece.
O que continua imbatível é a salada russa
com imaginações de que podia ter marisco, e o arroz doce, uma homenagem aos
sabores antigos.
Na Zínia de hoje, as colaboradoras (cada
vez gosto mais deste nome técnico) insistem em serem simpáticas e prestáveis, e
alguns clientes insistem em ser velhos, a continuarem em ir à Zínia, e fazerem
escolhas difíceis e demoradas entre os pratos disponíveis e muitas vezes não
ouvem a chamada do numero das suas senhas, porque já nem se lembram da senha
que têm na mão. Da Zínia é que não se esquecem, nem eu, que já ando a deixar
passar os números e digo que são os outros.
E não falei dos panados. Uma instituição de
utilidade pública.
Comentários
Enviar um comentário