Ela costurava. Dia e noite, costurava sem
parar. Costurava e sorria e dizia na sua maneira coisas bonitas e Amor. Fazia-o
sempre que a visitava, devia continuar a fazê-lo mesmo quando eu não a
visitava. Porque o fazia e parecia sempre feliz, quis imitá-la, também queria
ser feliz. Comecei a escrever, por achar nessa idade ainda prematura para
achar, que escrever era o que mais se aproximava a costurar, que poderia ter
sido uma opção válida, mas escrever também não estava mal.
Dei-me agora conta que está a passar na televisão o Natal dos Hospitais.
E com esta imagem, em que temos estado descansados um do outro, ela emerge, toma
conta da minha memória. Era o seu programa favorito do ano. Costurava sem pôr
os olhos no ecrã pálido de cores fortes. Anunciava com segurança e sem erro os
nomes dos artistas e cantarolava os seus êxitos. Eu, por ser miúdo e gostar
dela, fazia deles os meus artistas favoritos, e como nunca tive jeito para
cantar, e costurar parecia-me dificílimo ganhar o ritmo do pedal, resolvi escrever,
a minha maneira atabalhoada de costurar.
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