Os dias eram redondos e apesar de alternarem
rodeando na luz e na escuridão, repetiam-se sempre iguais.
Assim tudo continuaria inalterável não se
desse o caso, um acaso talvez, de os homens e outros animais inteligentes terem
dado conta e atenção ao facto de os dias serem assim, por vezes monótonos e
previsíveis. E colocaram questões.
A partir desse instante, tudo se alterou, tomando
os dias nota de que andavam a ser observados. Não sendo por natureza desconfiados,
envergonharam e num esforço de simpatia, fizeram-se elípticos, alongando-se, o
que alterou a sua alternância sempre igual.
Os observadores, críticos que são a tudo,
ficaram com a ideia de que o tempo dos novos dias esticava, mas isso não era
verdade: as horas, os minutos, os segundos, eram rigorosamente os mesmos.
A vantagem dessa original configuração
geométrica era só uma, mas fundamental: os dias deixaram de ser monótonos por
andarem sem parar às voltas e voltas. Passaram a andar esticando-se, o que
modificou as monotonias de alguns acontecimentos.
Foi uma grande invenção essa, mesmo que as
pessoas correntes não valorizem nunca as coisas importantes. Deu-se o conhecido
fenómeno do efeito borboleta, que diz que um simples bater de asa de uma
borboleta, afecta toda a dinâmica do universo. Ou seja, não há nenhuma causa
que não dê em consequência.
Esta reflexão veio à luz, balouçando numa
cama de rede, imersos o objecto e o ser que a reflectiu, num fim de tarde
completo em tudo o que se podia desejar de um dia magistral, em que o tempo se silencia
e nos dá aquela pequeníssima margem de felicidade suprema, que acontece sempre
que as condições se prestam a isso.
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