Saem os santos à rua, e os homens, menos santos. Saem juntos
sem diferenças, aperaltados e dançarinos e muito animados, fazem a folia.
Cheiram os manjericos com quadras que rimam à força, lançam
piropos às moças que não os repreendem por assédios, os santos não, que são
santos.
Está aberta a melhor época do ano.
Uns descem a avenida, em coreografias simples que treinaram o
ano todo. Levam madrinhas e padrinhos, uma excitação. É a sua noite de glória e
o deleite da população expectante, a torcer pelo seu bairro. Ainda vai haver
muita alegria, e muito choro.
Os senhores de preto que agora estão disfarçados de cor,
sentados na bancada das pessoas importantes, fingem que riem e batem palmas,
não vendo a hora de saírem. Odeiam o cheiro da sardinha, mas disfarçam pelos
votos.
Uns, menos santos e mais homens, andam tresmalhados nos becos
e nas vielas, onde mal conseguem andar milhares de pessoas e de gente, um mar
imenso, petiscando sardinha, dando na febra, bebendo sangria barata e levando o
gargalo da cerveja à boca. Ávida, seca, desejosa de hidratação com tanto
bailarico e tropeção.
Cantam todos e são felizes, mesmo os turistas cantam e felizes
são.
É a estação das melhores noites do ano, e os santos da festa:
o António, o João e o Pedro, trazem consigo toda a família, sendo possível mas
não garantido, que o próprio Deus e o seu filho baixem à terra, para foliarem
entre os homens, fazendo férias de deuses e dos milagres, que já não são o que
eram antes.
Daqui até ao fim do mês nem o futebol entristece. Depois, logo
se verá.
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