Voltei ao jardim, o mesmo, que é, ou era porque já foi,
frequentado pela mulher que lia livros. Não a vi, é normal, ainda estamos a
sair do inverno e a esplanada está inoperacional, desmantelada. Neste paįs, num jardim sem uma esplanada minimamente
operacional, ninguém lê livros no inverno. Fica um jardim sem condições.
A tendência é para fazer mais sol (ele faz sempre a mesma
quantidade, mas é um dizer), o calor vai aumentar e pode-se esperar que chova
muito menos ou mesmo nada.
O jardim poderá voltar a reunir condições para as pessoas que
leem livros, incluindo a mulher que lia livros – e não se sabe se desistiu –
espera-se que continue, o que seria uma perda considerável para a harmonia
deste jardim.
Equivoquei-me.
Dirigindo-me para a saída do jardim visto este ser contido por um muro que o separa do asfalto e dos prédios e ter uma porta de entrada e a mesma para a saída, vi-a. Estava a ler um livro, imersa, que nem deu por mim. Como poderia ter dado por mim se não sabe de mim? Esta ideia de que somos importantes!
Dirigindo-me para a saída do jardim visto este ser contido por um muro que o separa do asfalto e dos prédios e ter uma porta de entrada e a mesma para a saída, vi-a. Estava a ler um livro, imersa, que nem deu por mim. Como poderia ter dado por mim se não sabe de mim? Esta ideia de que somos importantes!
Estando no final de estação, lia um ensaio sobre o prazer da
solidão. Adivinhei e sei porque reconheci à distância a capa do livro que ando igualmente a ler, não sabendo que ela tambėm. Mudei há muito pouco tempo de lentes, tenho uma visåo de águia.
Somos coincidentes nos temas, o que prenuncia uma primavera
estimulante. Seja ela qual for, a vida recomeça ssmpre na primavera.
Eu gosto de todas as flores, também os cravos. Não sei as flores que ela aprecia. Se forem todas e eu tiver coragem, poderemos um dia, vir a ler um para o outro.
Eu gosto de todas as flores, também os cravos. Não sei as flores que ela aprecia. Se forem todas e eu tiver coragem, poderemos um dia, vir a ler um para o outro.
Mas ler é uma utopia que debilita o sistema imunitário. Tem o
propósito de desgastar as pessoas na realização do impossível, fazê-las sábias. Os que
leem, quando morrem são enterrados nos mesmo cemitérios dos outros, mas são
menos visitados. Fizeram-se mais solitários a ler.
Não sei se quero que ela leia para mim, ou se vou continuar por muito mais tempo a ler, seja o que for de legível.
Talvez mesmo seja melhor e mais económico para a saúde, gostar só
de flores. Agora que penso nisso depois de sair a mulher que lê
parece emaciada. Que interesse têm teorias da solidão? Mesmo que lidas no ambiente do jardim?
Os cravos andam de estufa: artificiais e caros. É o cabo dos trabalhos comprar um que luza e se aguente viçoso, depois de amanhã, que seja. Se ele aguentar até lá!
As esculturas são da Graça Costa Cabral
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