A arte da escrita estremece em terramotos quando abusada com
imoderação.
Acelere-se aos limites do pedal: nos acertos, nos falsos
desacertos das palavras, em frases estranhas, oblíquas, fora do tom.
Avive-se o colorido com vírgulas manhosas, descompostas,
exclamações noutro contexto, pontos finais ao contornar esquinas, obstáculos
inesperados que fazem tropeçar.
A escrita ganha o céu quando o homem a põe a secar ao sol, à
chuva, aos vendavais, escorrendo-se dos pesos inúteis, no apoteótico esplendor
da sua nudez primordial.
Assim como é!
Toda a tentativa de limar arestas e tapar buracos com massas
baratas, alisa e limpa a sua superfície, mas também a impermeabiliza das
chuvadas torrenciais de belo que curtem a sua pele para os doces usufrutos da
alma.
Há textos, muito bem escritos que são qualquer coisa, mas não
arte.
São diplomacias das canetas: educados e sensaborões.
Bons textos no entanto.
A beleza da escrita habita rostos cheios de rugas, lavrados por
fenómenos climatéricos extremos. Rostos que são como são: sem plásticas.
Uma bela de uma escrita das palavras é tão simples e tão
ingénua, que assusta escrever.
E há momentos em que se consegue, quando não se pensa nisso e
saímos à rua com a maior das naturalidades.
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