Fugi porque tinha uma ferida aberta, sangrando muito. Uma traição, provocada por uma paixão que foi um vendaval, que levantou telhas dos telhados, pedras de calçada, vasos com flores. Remoinhos incontrolados que me viraram do avesso e assim fiquei, até que nasceu uma pele nova, e pude continuar a viver. Dizem que um ama e o outro é amado. Talvez seja verdade, continuo sem saber, não acredito muito em vaticínios alheios, prefiro a experiência pessoal. Fugi, porque a cidade e os transeuntes para sempre anónimos e que nunca virei a conhecer, asfixiavam-me com o seu andar inconsequente pelas ruas, apoderavam-se distraídos do ar que eu precisava para respirar e gritar a minha dor. A cidade ficou pequena para nós os dois. E então, sai. Fui o mais longe que pude: mil quilómetros, nada mal. Cheguei nos finais do mês de Setembro, num dia de grandes e trágicas inundações, e não conhecia ninguém, não sabia o nome das ruas, não conhecia a língua, nem dizer a palavra inundações, e chegava n