Uma deusa, num pedestal. Cinquenta quilómetros, com as voltinhas todas, montado numa Honda Amigo , com pedais, mas artilhada: o escape roncava como um leão. Deixei nesse dia as aulas a falarem consigo próprias, matemática e física, eu que queria Letras mas não pude porque para o meu pai, ou era Engenharia, ou Económicas, ou Direito , e o resto era conversa, e eu a achar que o amor se sobrepunha a tudo isso. E fui atrás dele. Nunca mais lá chegava, e o amor a chamar-me, e eu apressado e desajeitado nestas coisas do amor, tudo era novo, a primeira vez, e a querer atender ao chamamento. A bicicleta motorizada a dar o que podia, honesta nos seus limites, íamos para aí, no máximo, uns trinta por hora. E o vento, que seja a que velocidade se vá, está sempre a fustigar-nos, a dar-me estalos na cara, como se estivesse montado num foguete norte-coreano. Era tão avassaladora a vontade de lhe manifestar o meu amor primeiro, ou paixão, ou o que se lhe dê nome, nessas gradações de um cora