Fazia frio. «O menino não tenha medo que não fazemos mal ao seu paizinho». O menino não sabia ainda se tinha medo, só estava perplexo a ver o seu pai ser lavado por uns senhores de fato tão negro como se pintava ainda essa noite. Fazia frio e escuro. O menino, tão menino ainda, sabia ao que eles vinham: encarcerar o pensamento. E se era por isso que eles levavam o seu pai, ocuparia ele o seu lugar, o lugar da cidadania. Pai não te preocupes eu faço o trabalho por ti. Ao fim da manhã, vindo da escola primária onde os meninos estão também separados das meninas por um muro, a caminho de casa na rua soldados da India, na parede branquíssima a perder de vista, o muro dos Altos Estudos Militares, ele vai pintar em vermelho veemente, uma foice e um martelo. Os senhores carvão que gralham como corvos não podem levar o menino, e ele sabe isso, e ele aproveita-se disso, não podem encerrá-lo numa cela escura. Se o fizessem ficariam sem meninos e um país sem meninos não existe mais. Perde-se o fu