Ofereci a minha voz à sua cegueira. Laboriosamente, não contei os dias, li trechos, livros inteiros, da sua biblioteca pessoal. Todos os dias à mesma hora, não perdoava atrasos apesar de o dar a entender de uma forma muito britânica, a chegar a irritante, nesse polimento que se percebe tão bem que por trás, está um momento fervente de raiva, nos bastidores de uma figura impávida, a fazer-se desprendida nesse hábito por vezes tão exasperante de os britânicos se fazerem educados para os outros. Era o número seis, habitado por três humanos, um gato, e todo o universo compactado numa casa a meia luz, que dava a sensação de ter estado sempre ali, desde o princípio dos tempos, dando vida e morte e continuidade aquela família. Dona Leonor, mulher velhíssima a atingir os cem anos, a empregada igualmente velhíssima de toda a vida, uma gata branca ou preta, não cheguei a saber, e ele, impávido, com o seu fato de bom corte, escuro, risca de giz, sentado num sofá puído, o seu sofá, as mãos apo