O Imperador olhou para o império com olhos humildes. Havia gratidão na forma como ele olhava. Não é habitual um imperador olhar assim o mundo, mas ele é um homem anónimo, vestido da importância de um cargo, que está acima dos homens e ao lado dos deuses. Amanhã deixará de o ser, entrega esse fardo a outro. Alvorece, o dia desponta e ele contempla o seu vasto território. Não lhe conhece os limites e as fronteiras, nunca viajou. O epicentro do seu império é marcado pelo penhasco onde agora se encontra a contemplar. Um sítio num lugar. A razão por estar ali, tão cedo, deve-se ao seu forte sentido do dever. Homem de natureza séria. Está ali antes de começar as suas infindáveis tarefas diárias, é o seu momento de introspecção. Vem para se encontrar consigo mesmo, para fazer balanços, limpar a consciência de coisas turvas. Lança para a caixa dos desejos a esperança de estar à altura, de poder cumprir com orgulho o dever de que foi empossado. Com isto benze-se e cerra os olhos por momen