O Senhor H abandonou a ideia da morte, por resolução pessoal, convenientemente interiorizada, e sem intervenção nem pedido externo no dia que compreendeu que o seu pensamento andava a ser intoxicado por essa recorrência mas que o culpado era outro, não o sabia ainda. Andava nisto há mais de vinte anos, sempre vestido de azedume, cor de breu petróleo, ou petróleo breu, não interessa a precedência, a mesma tonalidade da cor. Fervilhante com a sua ideia incrustada na cabeça, terá mesmo pensado em cometer suicídio, mas depois ficava mal visto e não queria. Tinha ideias fixas. Outras vezes, quando a crise agudizava, pensou em orquestrar um massacre colectivo, que seria ao mesmo tempo uma vingança apoteótica contra a frieza da sociedade, a desatenção profunda, cuja ligeireza leva as pessoas ao engano, e um espectáculo de pirotecnia: todos condenados à solidão, convencidos que andam acompanhados, só porque o vizinho do lado é estridente. O Senhor H era um pessimista, mas tinha de ser al...