habitações, uma escola profissional, uma agremiação, um local de culto, sóbrio, sem pretensões de massas. Os dois homens que vestem os chapéus cónicos, estão de costas e dão a sensação de serem ainda jovens, pela forma como andam. Entram por uma porta não identificada. A porta preta, mate, não convida a entrar, mas não se resiste. Não está fechada. Uma antecâmara ampla pintada de branco, o chão forrado a mármore, igualmente branco. No rodapé de uma das paredes, sapatos de várias formas e feitios, alinhados. A sala está vazia de gente. Ouve-se o som não muito forte de uma música que parece simples e repetitiva, esse som é abafado por uma pesada cortina de tecido denso. É um salão. Semi-obscuro. Uma luz amarelada pelo efeito de candelabros de velas suspensos do tecto. Um pé direito considerável. Num dos cantos da sala um piano de cauda, um pianista, uma mulher ainda jovem, com um vestido comprido formal, violino. Tocam uma música difícil de qualificar. Parece simples mas ao mesmo tempo complexa, parece repetitiva mas não é. Preenchendo o volume do salão, a sua tridimensionalidade, homens de chapéus cónicos, agora também pretos, vestidos com túnicas brancas que se ajustam ao contorno dos corpos e que alargam fazendo uma saia rodada. Executam uma dança com um único movimento. Um braço apontado o céu, o outro apontando a terra, as cabeças descaídas para o lado direito do corpo, giram sobre si mesmos, de olhos fechados. O ritmo imprime uma grande velocidade e dá a imagem das saias, ondas ondulantes num mar cheio de poesia. Visto de fora parece um transe colectivo. O movimento repetido e de vertigem, ajuda a atingir um estado de hiperconsciência, dizem. Só de se olhar fixamente, liberta algo no nosso interior, que fica mais leve, mais claro, disponível.Estes homens praticam uma dança antiga, uma ligação das coisas terrenas aos acontecimentos celestiais. Religião, espiritualidade, energia. São sufis, dervixes rodopiantes, que executam uma dança contagiante ao som de uma música misteriosa e bela.
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