Estava
Deus à conversa com Buda, Osíris, Isís, Ahura-Mazda e Vixnu, todos Um (Zeus desordeiro
e irascível não foi convidado), personagens da sua imaginação com que entretém
a solidão da eternidade, enquanto o Diabo, filho pródigo (este rapaz que podia
ir tão longe, saiu assim!) fugido de casa por ser um amante da liberdade e
gostar decidir por si, aproveita a oportunidade em que Ele não estava nos aposentos,
e procura na escrivaninha fotografias, de pequeno. A humanidade, divina ou a
dos homens divide-se em dois grupos muitos distintos: os que gostam que os pais
lhes tirem fotografias, por tudo e por nada, e os que não gostam. O Diabo era
do segundo grupo, mas passado esse tempo da infância, afinal, ganhou um apreço
nostálgico pelas fotografias, e explicado fica o acto rebelde, mais um, de
invadir a privacidade do Pai. Não sendo propriamente organizado e sabendo que
tem pouco tempo, espalha tudo por toda a parte. Os adolescentes hoje são assim:
parece que não foram ensinados. Encontra o que queria, parece, e volta para as
suas coisas, que não são as de atazanar a vida dos homens, seres que
desconsidera em geral. Deus, sendo ubíquo, está com os amigos mas também está
com um olho nos seus aposentos e assiste ao episódio do filho rebelde. Sendo
todos os parceiros um só, Buda, que é muito intuitivo, medita energias
tranquilizadoras para apaziguar a possibilidade de um conflito paternal; Osíris
e Isís, nem se dão conta, têm a atenção toda nas coisas etéreas, de calibre fino;
o Deus do a Zoroastrismo, é um ser dualístico
carregado de bom senso, em todos os sentidos, para Ele está tudo bem seja
branco seja preto, e gosta bastante do Diabo, essa é que é a verdade. Quanto a
Vixnu, não tem mais olhos nem atenção senão para a sua família, vastíssima, um
procriador de divindades nato, sempre com problemas comezinhos para resolver e
a dar mais atenção ao Yoga do que à gestão doméstica de uma família a dar
sinais de disfuncional. Deus entretêm-se nestas conversas com os seus
personagens para - já dissemos - esquecer que não tem mais ninguém com que
falar. E assim escova o tédio da sua cabeça, que a melancolia também pode
afectar os deuses. Com isto o Diabo encontra o que procura e corre a mostrá-las
a uma belíssima sereia que habita os mares da Atlântida submersa, por quem anda
de beiço caído. E ela tem-lo preso por estas coisas de família. Deus tem alguma
expectativa nesta relação do filho, até que haja um desfecho que espera
positivo, lança conversa fora num monólogo cheio de personagens.
** Fallen Angel - Alexandre Cabanel
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