Quando mais perto de ser homem, maior é o abismo da minha desilusão.
Um salto para uma queda livre no impossível.
A verdade que nego e engano, é que nunca poderei ser homem, e
o pior dos castigos é o facto de me entender quase-homem. Vejo-me assim, um ser
inacabado, a faltar um nada para ser. Não entanto não.
Alguns procuramos o disfarce, a trapaça – a ver se passa – mas
a imitação é sempre defeituosa, e mesmo que não pareça, por dentro de nós ficou
a parte incompleta.
Mesmo que seja executado por um profissional – o figurino que
nos disfarça de homens - , alguém atento, descobre facilmente as imperfeições.
E somos apontados por todos, alvos de riso, do desprezo.
A pior coisa que se pode fazer a um homem é querer ser como
ele. Desconfia de imediato, a seguir fica inseguro e defende o território, que
diz ser seu, que considera ser toda a extensão de terra que um dia cartografou.
Eu queria tanto ser homem.
Apesar dos seus momentos – são muitos – de tristeza serem pungentes, às
vezes uma dor aguda insuportável de viver, quando se realizam em grandes obras
ou grandes pensamentos, efemeramente alegres, gozam do prazer da felicidade, um
inexplicável que é um orgasmo do conseguimento.
Esse clímax só é dos homens. Nenhum outro ser seja animal, ou
vegetal, ainda menos uma pedra, poderá jamais provar essa iguaria. E é isso o
que nos falta, aos que estamos tão perto de sermos homens, e que falhamos por
vontade de deus.
Ele é o culpado da nossa miséria, da sua miséria. Entediou-se
com o acto da criação e deixou-a com um final suspenso. Dizem que se cansou,
dizem que foi propositado, dizem que nos quis dar a oportunidade de nos
completarmos, sublimando-nos.
Descansou ao sétimo dia e deprimiu. Desapareceu para parte
incerta.
E só deu essa oportunidade aos homens.
Nós somos ”Os descuidados de Deus”.
*Título do projecto criativo do Pintor Paulo Robalo (em execução)
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