São oito horas da
manhã, são sete horas da tarde. A energia, o sorriso genuíno extravasam a jarra
do universo, num pequeno planeta perdido algures na via láctea.
Há um Google Maps da via láctea?
Estamos em lugar
de privilégio na sala de sonhos com maior rotatividade de espectadores por
minuto, e a actuação só dura ténues segundos.
Massas, fitas,
lançadores de fogo, monociclos, representações na borrasca e na bonança, num
teatro-circo em céu aberto.
Um cão rafeiro,
cão estátua tensamente atento aos donos, o mais acérrimo dos críticos, assiste
no bordo do passeio na primeiríssima fila.
A sincronicidade
da actuação, das saudações e da recolha de propina, são absolutas. Relógio
suíço.
Fim de mais uma
actuação.
Tempo para pôr a
moeda no saco velho, mimo ao animal, treino que antecede a próxima entrada em
cena. A revisão mental da sessão seguinte, repetida mil vezes num dia. A
glória, depois de uma execução irrepreensível.
Um rapaz e uma
rapariga, que aparentam felicidade, construíram o palco imaginário numa passadeira de peões numa
avenida frenética. Fizeram da sua arte o seu ganha pão.
Não mendigam,
nómadas errantes no espaço de uma cidade desatenta como todas as cidades em
hora de ponta.
Os cinquenta
cêntimos que poucos dão através da
comissura de uma janela escassamente entreaberta, são o valor justo do bilhete.
Levam ainda para casa, uma reverência com
cartola, quando a luz verde põe de novo os carros em marcha.
Os artistas, nas
suas habilidades, convidam a audiência a reservar um cantinho para a
possibilidade de irreverência nas monotonias das vidas. Shangri-la da liberdade.
Uns recordam-se
da juventude e sorriem para dentro, outros em maior número, não sorriem porque
já perderam essa memória, outros ainda têm pena, não se sabe se dos palhaços ou
do beco escuro em que foram parar.
Atenção! O
grande, o único, fantasbulástico cão foca encaixa agora argolas na cabeça e
bate palmas cada vez que uma delas acerta, enviadas de alturas estonteantes
pelo homem-rapaz da cartola .
Senhoras e
Senhores, o circo saiu à rua!
Bonito...obrigado pelo momento de escrita.
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