Não penso nunca na morte e fico contente porque o céu é azul. Consigo viver perfeitamente vadio porque fechei a clepsidra do tempo, no sótão de onde vivo. Esqueci-me dela e ando por aí, a juntar pequenos prazeres, para um dia, quando voltar a contar o tempo, poder ter a quantidade suficiente para ser feliz e cheio, antes mesmo de ter de pensar na morte. Até lá, pinto a manta, volteio, faço rimas que umas rimam e outras não, falo com as pessoas, e leio livros, uns melhores do que outros, alguns, sublimes. Não deixo nunca é de me admirar e nesses espantos que me caem no beiral dos olhos, e os chamo para dentro de casa, convenço-me de que poderei ainda vir a escrever o grande caderno das palavras belas, umas, que eu cá sei, mais minhas, porque são as minhas palavras belas. Cada uma tem a sua identidade, tem um passado seu e um carácter próprio. Umas são mais sociáveis, outras mais ariscas. Contarei a sua história como eu as vejo e conheço e espero, que a partir daí comecem a ser olhadas