Seria uma catedral gótica, o silêncio, o som vago das lajes de pedra concordando em suster o peso enorme de todo o edifício, figuração alegórica, a terra que suporta o peso do céu; uma ausência de som que não é uma ausência de som, mas sim murmúrios; o ranger tímido do soalho de madeira antiga de não querer incomodar a harmonia da serenidade. Um miúdo rasgando o tempo de fim de tarde desse espaço quase religioso, miúdo irrelevante, estarrecido nessa sala vazia de outras pessoas, fascinado pela parede de livros que lhe parece assumir uma dimensão, precisamente, de catedral. Onde estão os da casa, não se sabe. O miúdo espera por alguma razão que será a de brincar, o seu amigo, o da casa, que pode estar nesse momento no quarto a estudar e por isso a sala está vazia e o miúdo experimenta essas sensações em solidão. Não se toca num altar, nem por curiosidade. Assim, ele olha, quer, mas não toca em nenhuma das lombadas que o atraem tão magneticamente. A pedir que sejam lembradas, esc