Instalou-se uma tempestade violenta. Está há dias assim. O céu assustador e escuro. O mar, um mar de trevas. É o nosso normal. Extremos. Não há estações do ano. Há imprevisibilidade. Quando as condições se complicam, vivemos debaixo de terra. Construímos túneis que ligam as casas entre si. Quando se pode estar cá fora ou por frio extremo, ou por calor impossível, estamos soterrados. Somos ratos. Como praticamente não vemos nada estamos a ficar como morcegos. Ratos e morcegos. Quero crer que estamos a desenvolver uma nova sensibilidade: a percepção dos objectos há distância. Como um radar. Não é o que dizem? que os morcegos têm essa capacidade? Nestes dias, que por vezes são muitos, em que estamos nesta letargia expectante, não lemos livros. Isso desequilibra-nos ainda mais. Quando estamos nessa espécie de catacumbas, praticamos o silêncio. De resto, desde que o mundo é como é, ou como o conheço, falamos todos muito pouco. Como vivemos num espaço reduzido, não temos necessidade da