Marvão está mais perto do céu, para o bem e para o mal. Para o bem, quando num dia despejado, sereno, ensimesmado de si, estende a vista sem esforço maior, até uma enorme longuidão. Agarra os contornos da mais imponente serra continental, maior, que temos: a Estrela; noutra direcção vai-se quase até ao mar, pelo menos a saber-se que ele está ali, prestes a chegar ao alcance da vista; noutra, os campos lhanos, meio monótonos, a tomarem nos meses de verão as cores de uma extensa mantilha doirada, como alguém disse do ilustre Branquinho da Fonseca, o homem das bibliotecas itinerantes da Gulbenkian: “ a paisagem era amarela e chata; o poeta deitou-se na paisagem e ficou amarelo e chato ”; outra direcção ainda, terras de Espanha, o estrangeiro que temos como nosso vizinho, os melhores que poderíamos ter, irmãos. Para o mal - que nunca fica esquecido-, em dias de tempo carrancudo, recebe a borrasca antes das terras baixas, águas por vezes diluvianas, primordiais, ventos sibilinos,