P ara se perceber melhor Florinda casou com Jacques e a dois, a vida foi-lhes um pouco melhor. Ela amansou dos nervos, os comprimidos a partir de uma certa idade ajudam, deixou o trabalho do armazém, tornou-se doméstica a tempo completo. A polícia de Estado acabou por se desinteressar do seu caso. Não detectaram mais ligações subversivas do que as ligações de afecto com a sua família, mãe e irmãs, e as relações de circunstância com os personagens mínimos exigidos no quotidiano de qualquer um: vizinhos, o senhor da mercearia, o homem do talho, a peixeira, o taberneiro, o do carvão, e pouco mais. E se as relações de família também podem ser subversivas, são de uma outra ordem, não interessam ao Estado. Havendo tantos e tantos para espiar, desistiram da Florinda. O Jacques que tinha muita conversa, apesar não falar francês, saiu da distribuição das botijas de gás, deixou a sua moradia “senhorial”, no bairro do chinês, alugou uma casinha humilde, mas de alvenaria e tel