Uma história repetida vezes sem conta que parece o desfiar de um rosário. Veio para cidade, de uma aldeia perdida no nome e no conhecimento das pessoas, menos as poucas que lá viviam pobremente. Currelos, Viseu. Veio servir, mas não quis. Foi trabalhar aos doze anos para uma oficina em Campo de Ourique, a desmanchar livros, é assim que começa o ofício. Como era curiosa aprendeu a arte de encadernar. Aos dezassete anos comprou o negócio. Quinhentos escudos. Viveu tempos difíceis, menos difíceis, são sempre difíceis. Agora que poucos apreciam os livros de os ler e de os afagar, porque vive de uma pensão de viuvez, trabalha a dias, e alguns desses dias, poucos e que deviam ser todos, ainda consegue exercer a sua arte, mas gostaria de o fazer a tempo inteiro, já não dá. Anos atrás, num dia em que provavelmente boleava um livro, entretida com os sons da radio, entrou-lhe porta adentro um senhor estrangeiro. Italiano e engenheiro de Cabora Bassa. Veio encomendar um liv