Temos dos climas mais afáveis da vizinhança, mas ficamos em casa. Nem para abraçar os nossos correligionários nos damos ao trabalho – que seria prazer – de sair e visitá-los. Ficamos, e entricheirados. Semi corremos a cortina da janela e olhamos de soslaio para a rua. Observamos os corajosos que se aventuraram a passear num dia perfeitamente inofensivo, apesar de chover, que faz falta. Estamos a vê-los mas eles não sabem da nossa existência, vêem estores brancos. Não saímos à rua, mas o facto de termos montado guarda na janela como observatório do que se passa lá fora, é como se tivéssemos saído. Quando cai a noite vamos contar aos nossos, à volta da mesa, que somos corajosos e sabemos tudo o que se passou na rua, porque estivemos lá, no local próprio, fora. Ou seja, na fronteira marcada pelo vidro da janela, vasculhando com o olhar mortiço o movimento, fora. Somos heróis dos sonhos, ou da preguiça, ou de nada para além de uma vontade imensamente frouxa,