O Homem é
condenado à morte
O homem é inocente
do pecado que não cometeu. Outros homens, menos homens, condenam-no à morte.
O Homem carrega a cruz às costas
Esses menos
homens, invadem a terra do homem, destroem tudo e a possibilidade de ele
continuar a viver, no único lugar que conhece e chama seu.
O homem inocente percorre o caminho da sua cruz,
O homem cai pela primeira vez
Titubeante,
fragilizado, cai e sofre, custando-lhe levantar-se e enfrentar o caminho que
não tem sentido percorrer assim.
O homem encontra a sua mãe
O homem olha
olhos nos olhos os seus, sua mãe, seu pai, e chora, porque é impotente e não os
consegue proteger do mal que se abateu sobre eles.
Um homem como esse homem, ajudou- o a carregar a cruz
Um
transeunte, homem seu igual, apieda-se e ajuda-o a carregar a cruz. Peso
insustentável para toda uma humanidade, representa o peso do mundo, nesse homem
triste e inocente, que a carrega,
Uma mulher de nome Verónica limpa o rosto do homem
Uma mulher,
corajosa como todas as mulheres, destaca-se da multidão de amorfos, e refresca
a face sofrida do homem que nem consegue agradecer esse alívio momentâneo.
O homem cai pela segunda vez
E volta a
tropeçar, nas pedras desse caminho, e ninguém lhe estende a mão. Todos assistem
como se fosse um espectáculo, esquecidos ou obnubilados de que também são homens,
e que um dia, poderão ver-se no castigo de terem de arrastar uma cruz que não
deveria ser a sua.
O homem encontra os seus semelhantes
Todos baixam
o olhar, por vergonha, por pena, por cobardia. E o homem, procurando com o seu
olhar o olhar dos outros, vê o nada, a ausência, a desumanidade.
Terceira queda do homem
Cada vez mais
falho da sua força de homem, descrente já da sua inocência, o homem claudica e
cai novamente. Levantar-se é um movimento quase impossível.
O homem é despojado das suas vestes
No
rebaixamento, na indignidade final, despojam-no dos atavios que cobriam a sua
nudez, a sua intimidade, a pureza de ser um homem, ausente de culpa. Essa
provação amoral doi mais que mil chicotadas.
O homem é pregado na cruz
O castigo
para o pecado que não cometeu mas que foi levado, na sua ingenuidade a
acreditar, a incorporá-lo com sendo seu, é a dor lancinante e atroz de ser
pregado a uma cruz, no cimo de um lugar despido, frio e inóspito, exaurindo-se
do elã vital. E nenhum dos outros homens que assistem lhe vão dar de beber, ou
limpar as gotas de sofrimento do seu rosto.
O homem morre
E, como todos
os homens, ele morre, sem ter tido o tempo de justificar a sua vida,
imprescindível, porque homem. Divino.
O homem,
morto, é descido da cruz
Vencido pela
mortalidade e morto, um corpo físico sem mais préstimo, não sendo mais
necessário estar pregado numa cruz, como exemplo, ou equívoco, do que seja, para
os outros que estavam ali para olhar para ele, sem sentido, sem saberem porque
o faziam, descem-no da cruz e jaz agora no chão frio, inútil e esquecido de que
foi um homem.
O homem é sepultado
Esse homem,
de todos os cantos a que se quiser dar nome, geografias de todos os
continentes, é um mártir, é ele que todos os anos renova simbolicamente o
caminho da cruz, é o filho de outros homens como ele, gente comum, que não
consegue compreender o deus que assistiu entediado e ausente, a crucificação do
seu filho.
Palestina, Líbano, Síria, Líbia, Ucrânia, Venezuela, El Salvador, Honduras, Guatemala, a África quase toda, Birmânia, Tibete……. Inumeráveis geografias de sofrimento atroz.

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