Estava
distante. Não respondia a coisas simples. Nomes.Todavia, sorria.
Chegaram
com acentuado atraso. Alguns começavam a estar incomodados com a alteração desnecessária
da rotina.
Ela
sorria.
Rapidamente
montaram o que tinham a montar. Uma pequena caixa metálica pintada de azul, um
azul ofuscante, piscava luzes verdes e vermelhas. É impressionante a área de
tecto branco salpicada agora pelas intermitências projectadas dessas duas cores.
E a sala não é pequena.
Um
ecrã de televisão com um tamanho generoso apresenta um fundo de mar azul. Percebe-se
que é mar por ter pequenas ondas.
Vão
aparecendo frases a branco. Ele começa a cantar. Não se enganando, as palavras
brancas ficam amarelas. Caso contrário, havendo erro, são vermelhas.
A qualidade das canções escolhidas pode ser questionável.
Como
ela, estão quase todos distantes. Não olham para ele a cantar, não olham para o
ecrã, nem sequer, apesar de razoavelmente grandes, conseguem ler as letras das
canções populares.
Uns, a maioria, quando olham é para os seus mais próximos.
E sorriem.
E sorriem.
Funcionários,
forçados talvez pela administração, e antecipadamente avisados, levam alguns
utentes a dançar, que mal percebem que o estão a fazer. Alguns próximos, batem
palmas por isso, outros ficam envergonhados.
Envergonhados
não: ainda mais tristes.
Termina
a festa. Recebem todos de prenda uma caneca, que alguns, a maioria, não
consegue desembrulhar do papel que a embrulha.
Sorriem,
no entanto.
Desmontam
com a mesma velocidade com que montaram, vão para outro serviço. Há festas a acontecer em todo o lado.
Próximos
mais sensíveis, despedem-se com a consciência alterada e o coração apertado.
Próximos
menos sensíveis, não deixam, disfarçando ainda assim, de ter um nó temporário
nas suas gargantas, que ficaram mudas.
Eles,
cada vez mais distantes, não param de sorrir.
Um texto muito bom. Sei exactamente do que fala. Descobri este lugar e acho que me vou demorar.
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