Quando uma sociedade não reage - não os cidadãos em geral, que
esses só se queixam, ou dizem mal, ou tentam arranjar estratagemas criativos de
imitação dos grandes corruptos, os verdadeiros modelos do mundo moderno –, nas
suas estruturas inflexíveis, simplificando e deitando um simples olhar humano
para os outros, em vez de seguir os guiões dos protocolos, das convenções, das
ordens de serviço, da linha burocrática do requerimento, dos carimbos, dos
tempos intermináveis que a burocracia inventou para fazer esmorecer as
pessoas;quando chegamos a esse ponto em que a miséria, a fome, os maus-tratos,
a morte, são laçarotes descoloridos que enfeitam as notícias das
televisões,sempre as mesmas histórias, todos os dias iguais, só com nomes de
actores diferentes; quando chegamos aqui, assim, não parece que tenha havido uma
evolução na espécie.
Claro que existem estradas magníficas que intersectam toda a
geografia; um número incontável de carros confortáveis e rápidos que levam as pessoas
para longe; uma quantidade de supermercados a cada esquina das ruas, onde se
vendem todos os produtos do mundo; o acesso a licenciaturas curtas e simples, em
todas as áreas do saber e da imaginação; as facilidades de pagamento em
prestações intermináveis de uma semana de férias num resort longínquo nas caraíbas, com as mesmas condições do INATEL dos
anos sessenta, mas longínquo, e por isso exótico.
Tudo isto são evoluções, mas tecnológicas.
Evolução da consciência, da alma - se se for mais espiritual -,
do amor – se se for mais sentimental -,vê-se pouco, porque estes crescimentos
são individuais, não são fenómenos das massas, não se interiorizam com
currículos escolares nivelados por baixo, não se aprendem a olhar para a
televisão, e poder, se se quiser, passar todo um dia de manhã à noite, sem
deixar de ver uma novela ou um “reality show”.
Ainda assim o universo evolui, do ontem, para o hoje, para o
amanhã, e independentemente da nossa vontade e moral, ele continua a seguir o
seu caminho, e nós, transportados à sua boleia, acabamos por ver e viver o que
tiver que ser.
Não vale portanto carregar angústias, nem desilusões. O Mal e o
Bem são relativos, e queira-se ou não, parece que a teoria da selecção natural
do Darwin dá mais razão à adaptação para a perpetuação dos espertalhões, do que
aos que se preocupam com estes assuntos, envergonhando-se por si e pelos
outros, das figuras tristes dos primeiros, no seu esgravatar da ganância e do
atropelo.
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