No reino animal o suicídio acontece pouco. Acontece julgamos nós (que não estamos na cabeça dos animais) sem razão pensada deles, por desencadeamento de mecanismos dúbios.
Só os homens o fazem por vontade própria, e geralmente tomam tempo para decidir a forma e o momento, ou quando estão encurralados.
É um acto difícil de julgar. Cobardia para uns, da maior das nobrezas em espíritos de índole romântica.
Seja como for é uma decisão de grande responsabilidade, mesmo para os partidários da amoralidade nos acasos do universo.
Tento entender essa possibilidade, compreender os becos sem saída, o cansaço absoluto, a situação terminal. Não sei o que me espera e ainda bem.
Lamento não estar confortável com conjugações karmicas, chamamentos a paraísos paradisíacos, sacrifícios humanos para ganhar a vida eterna.
A minha espiritualidade, boçal e eventualmente mesquinha, resume-se a cumprir a única existência que conheço: este momento.
Amanhã, gosto de olhar para o céu, esteja de azul, cinzento, ou amalucado em tonalidades várias. Olhar para o céu com deslumbramento é mais do que suficiente.
Mas este assim, sou eu. O meu vizinho ao lado, que estimo e por quem nutro a maior das considerações pode amanhã sair de casa para irresolver a sua vida e a de mais cento e cinquenta outros, sem que alguma vez nos cafés que tomámos juntos eu me tivesse apercebido das suas determinações.
Assim funciona esta roleta.
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