A explosão violenta e obrigatória,
assustadora, acompanhando esse ímpeto, vindo do absolutamente escuro, para a
agressividade de uma luz que encadeia, demasiada, insustentável. E aí, nesse ponto
da ainda ainda não história, acontece um episódio fugaz, antes da primeira
inspiração e da ânsia de não se conseguir expandir os pulmões. Uma projecção
incontrolável de um acto, numa cena estática no tempo, que ainda não está a
contar. Uma cena só nossa, num hiato de vazio. Nesse esgar, a possibilidade de
futuro, está suspensa no vir a acontecer. E desse vácuo, enfim, dá-se o
primeiro automatismo, a primeira inspiração, e começa a vida.
Agora que leio esse livro, que
escrevo isto, vejo o meu primeiro respirar, e esse suspiro, em que já não estamos
suspensos na possibilidade de viver, mas fazemos o último intervalo, antes de
iniciarmos a nossa história no palco da existência.
Consigo nitidamente ver esse momento
passado. Tive medo, a seguir nasci, e ouvi o seu primeiro chamamento de prazer.
A mãe, ainda em sofrimento, mas num êxtase de felicidade, a guiar-me para a
protecção do seu peito arfante.
Lembro-me como se fosse hoje.
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