* …Tantas e tantas vezes fiz a pergunta, se isto, este estado permanente de híper-lucidez, não é uma viagem interior. Se é que não estou parado, imóvel no mesmo local, a minha ilha-castelo, e esta aventura a que considero o real não passa de uma projecção a passar na minha cabeça, um filme, enquanto julgo estar a olhar para o mar. Onde está a verdade? Sempre a sentir-nos enganados. Se calhar nem parti, nem naveguei, nem sequei ainda mais a minha pele curtida pelo sol intenso, nem sequer sequei ainda mais as minhas entranhas habituadas à fome, à sede, ao calor. É tudo imaginado. É tudo baço, é tudo esquivo, é tudo tão pouco credível. É um sonho dentro de um sonho, que eu sonho, e alguém fora de mim me sonha, e nunca mais acaba, acumulações sobre acumulações de sonhos. Há quem nunca saia do quarto, ou da sala, ou da biblioteca, a cela que escolheu e em que se fechou por dentro, e imagine epopeias, viva circum-navegações terrestres e cósmicas, desenvolva teorias geniais, e, nunca saiu do ...
Não se adivinha em nenhuma geografia a localização exacta do Jardim. Pode ser nesta terra, pode ser noutra. Pode ser ao estender o braço, pode ser numa galáxia longínqua, até mesmo buraco negro. Pode ser da ordem do real, pode ser da ordem do imaginário simbólico. Seja o que seja onde seja, o Jardim do Éden existe, que não seja em delírios. É um lugar aprazível, onde tudo é puro. É o mundo das Ideias. As cores são o original de todas as cores; o Jardim, a perder de vista, e todas as árvores, arbustos, plantas e insectos que o compõem são primordiais, o conceito primeiro e completo desses seres todos, não há estações do ano, porque não há “ano”, tudo é permanente, e o clima é o protótipo acabado pelo Criador, de todas as tonalidades de climas. Os odores são perfumados e permanentes, inebriam de prazeres subtis. A concórdia está instalada, não há conflitos, não há excessos, não há asneiras, não há pecado. Não é necessário trabalhar para ganhar o pão, o que é bom, porque não é necessári...