III Custódia cantava fado , Eram todas, à sua maneira, a maneira dos olhos que as viam, bonitas. Mesmo a que tinha um olho de vidro no lugar de um olho que viu regaladamente o mundo até ser vazado por um gato, sem culpa deste. Lindas, nas perspectivas e ângulos em que foram vistas e algumas vezes admiradas, nos seus anos de glória e infinito, que todos têm, até que se esgotam. Elas, os olhos que as olham, e o tempo sempre a passar. Era a Maria, a Florinda, a Silvina e a Custódia, a fadista desta história. O que é o fado? A ópera das pessoas anónimas, a que ninguém assiste formalmente sentado nos camarotes confortáveis dos teatros. Os que assistem não o fazem nessa condição, são eles também participantes, actores da vida real, encostados num balcão sujo de um tasco obscuro, com as paredes degradadas e escorrerem melancolia, num pingar constante, um jorro que nunca estanca. Humidades que adoecem os ossos e as almas que os habitam. Tristeza-prazer, lágrima-sorr