Tenho o carro à porta de casa, porque a garagem está atafulhada de caixas de sapatos. Os meus “ Manolos ”, os meus “ Loubotins ”, os apreciados “ Stuart Wetzman ”, uma vida de grande esforço para os ter. Sim são como filhos que fiz nascer , que criei e alimentei com um carinho e um desvelo de filhos verdadeiros. Acariciei-os mais que ao próprio, o do sangue, que os homens de pequeninos e de boas famílias, não se alimentam com carícias, mas com distanciamento e razão. Quando forem adultos, não são piegas, moldaram a força do seu carácter, na ausência do afecto, estão preparados para nos tratar, a nós mulheres, como gostamos: com as deferências do gesto e a protecção material dos nossos pequenos caprichos. É assim que eu gosto deles, dos meus sapatos: arrumados, catalogados por filas de género e estação. Já não os uso todos, os dias do ano não são suficientes e a moda é mais rápida que o som, e se queremos estar na primeira fila, não devemos ter arrepe