Um bairro de lata não tem planos de ordenamento camarários. É um não-sítio. Terra pária. Não tem ruas direitas projectadas a esquadria num gabinete; a luz é a do petróleo e nos casos mais extremos, a do coto de vela; a água, a que se bebe nas fontes; o esgoto é a céu aberto, projectam-se lixos pelas aberturas das janelas quase janelas, pelas portas quase portas, quase, porque para o serem completas, faltam as molduras de madeira, os vidros, uma fechadura e a chave das portas. No bairro da lata cada morador é o seu próprio arquitecto, um construtor civil. Mas também há entreajuda. Os pobres dão aos outros pobres o que lhes falta, dão. O bairro chinês está na periferia da cidade, oriental, igual a outros, sem predicados, só defeitos. Não havendo igreja edificada, uma taberna assinala o epicentro. Apresenta-se no ponto exactamente topográfico de intersecção das principais vias do bairro. Sinuosas e tortas, por sinal. Não há topógrafo nem agrimensor neste bairro,