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DO AMOR INCONDICIONAL - 4 - DO ASTRONAUTA

Vista do céu, a Terra é uma bola de azul intenso, que sobressai como primeiro plano das outras cores que a pintam. Pinceladas de castanhos e amarelos, não é monótona. Algum marinheiro dos céus, viajante de uma barcaça espacial, de braços nus, tatuados, apoiado na amurada do seu navio interstelar, que neste preciso instante a veja e se detenha com atenção, pasma-se da sua beleza, por mais não seja que o tempo milimétrico de uma suspensão do respirar. Pode acontecer que se emocione, na forma de emoção que seja a sua, um ser de mundos desconhecidos, desarmado inesperadamente por uma profunda sensação de plenitude, fenómeno possível de acontecer quando desprevenidamente se dá de caras com uma manifestação do belo e não se esperava.  É, sem dúvida, uma alta concentração de emoção. Levar a um aperto do peito, uma pressão intensa, carência momentânea de ar, ligeira tontura a isso devida, algo de inesperado que vai ficar gravado na memória de uma viagem, a que mais  marcou,

DO AMOR INCONDICIONAL - 3 - DO ADEPTO

A história podia começar por o hábito fazer o monge, não se sabe ser faz, mas se os ditados existem, têm razões suas de serem ditados. Há por aí muito dizer que é pífio, mas os ditados, quase sempre na forma mais popular de se falar uma língua, revelam sabedorias e fornecem conselhos sobre os andares e os vagares do quotidiano. São para as pessoas, o que alguns sinais de trânsito são para as pessoas que conduzem os carros, sinais de aviso, de informação útil, guias para a bem-aventurança. Alguém que alguma vez se tenha lembrado disso e tomado como missão sua, nesta caminhada sinuosa de penas e poucas alegrias que nos leva à força ao buraco negro da eternidade, também conhecida por vazio – e seguir os preceitos todos de todos os ditados – talvez chegue, no final, ao bordo do precipício, mais purificado,  o maior dos inocentes, os meninos, que são todos, ao nascer. A decoração exterior da pele pode ser honesta ou um bom sinal do que não se revela, escondido no rem

DO AMOR INCONDICIONAL - 2 - DO NARCISO

A verdade tem dois rostos, vê-se ao espelho, e dependendo da intensidade da luz, a saturação o brilho e as diferentes componentes da luz, vê rostos diferentes, no mesmo rosto. I  No mito moderno (é o quê um mito moderno?), Narciso não definha a olhar insanamente apaixonado para a imagem de si reflectida no espelho. O contrário disso, infla. São os outros que mirram, por não serem Narciso, ou porque podendo sê-lo seguram esse impulso quase irresistível em favor de uma decência pessoal, questão de princípios. Assim, olhando para Narciso, todos zarolhos, todos estrábicos, e vendo-o engrandecer de tal forma, porque os seus olhos na doença de narciso que causa angulações estranhas, pousam no espelho mas veem um outro de si, definham estes, que o olham na presunção de não serem tão belos. Desconhecem o problema de Narciso, assim como ele desconhece o seu problema, eternamente salvo pela maldição das ninfas despeitadas, impossibilitado de se confrontar com a sua imagem espelhada