As crianças passam os dias na rua esticando o limite em que o chamamento saloio das criadas para o jantar, se desenvencilha do bruá dos putos no pátio e é ouvido, com desalento e ombros descaídos por se encerrar a jornada das brincadeiras. A rua é uma enorme casa sem telhado nem paredes, é um lar porque é íntimo e seguro, os miúdos conhecem-lhe os cantos e as esquinas, sentem-se bem. A casa propriamente dita aprisiona, com pais e avós e tias solteironas, encalhadas, todos entram, saem, andam o dia de cenhos franzidos, atarefados de quê? As criadas vieram da terra - os miúdos não entendem o que é isso de vir da terra - são os únicos adultos, ou quase, divertidos que não andam franzidos, sorriem tão genuinamente como as crianças e algumas passam o dia a cantar modas suas, umas alegres outras menos. Elas são também divertidas porque se deixam-se afagar, fingem que repelem com um não a dizer sim, que aceitam. Passa-se a palavra, disputa-se a criada de cada um, os primeiros pass