Numa noite que se antecipou ao final do dia, prometendo medos, ele saiu de casa, bateu com a porta porque era uma acção simbólica. Nunca mais voltou. Saiu com as mãos nos bolsos, foi visto assim, como se fosse desinteressado. Seguiu caminho, não olhou para trás uma única vez. Antes de sair teve a sua conversa definitiva e clara com o passado. Disse-lhe nos olhos que ia pelo futuro. O passado nem esboçou detê-lo nessa decisão, compreendia. Para ele não havia futuro se não se livrasse do passado. Há de tudo. Há quem leve a poeira aos ombros, há quem vá desanuviado. O que seria este homem se tivesse ficado. Nunca o saberemos. Entretanto, na direcção oposta, um outro homem, vindo esbaforido parece que do seu futuro, retrocede a correr, desalmado homem, confiante de que o passado ainda esteja á sua espera. Esteja ou não, vai lesto. É no movimento que está a vida.