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Mensagens

Vilhelm Hammershøi: the poetry of silence

DO AMOR INCONDICINAL - 11 - PAIS E FILHOS

Caminham juntos há dias, tempo interminável que deixa de se sentir como tempo quando se dão passos determinados, concentrados no caminho, só nisso, o tanto que isso é. Quase não se consegue descrever a paisagem, nem se imaginava antes essa impossibilidade, tudo aparenta ser descritível e depois não se encontram palavras. É muito difícil descrever o branco. Soam insuficientes as palavras, as exactas, quantificar a sensação de frio que sentem os poucos animais e pouquíssimos homens que vagueiam por essa extensão do nada, enorme, a perder de vista, uma imcomparável imensidão, a que se espraia no local que atravessa o eixo imaginário que assinala o sul do mundo. A terra do branco puro. A paralisia do olhar que acontece quando se pisa pela primeira vez essa superfície, entende-se porque não é fácil descrever o nada. Mesmo no curto período do verão a temperatura é escandalosa, ditatorial. Chamar verão a um frio extremo é uma simpatia linguística, um cinismo. Este Sul é

DO AMOR INCONDICIONAL - 10 - DO CÃO

“Odeio a praia. Água, nem se fala. Alergia. A areia repugna-me, excremento geológico perverso a imiscuir-se no corpo dos outros, por tudo quanto é sítio. E não há forma de nos vermos livres dela: ao fim de uma semana ainda a trincamos, aparecem grânulos mínimos mas incomodativos nos interstícios mais recônditos, que foram lá parar propositadamente para nos irritar, causar incómodo, tirar o sossego, uma coceira infinda, a perna a imitar um braço de um boneco dos chinês irritantemente chinês, até ao durar da pilha, felizmente não duram muito. Areia e sol juntos, o pior convite – vou a contragosto - que me podem fazer para passar um dia fora de casa. Não é sequer um convite, ninguém me pergunta se quero, levam-me e eu vou. Bem se sabe que adoro a rua, espaços amplos, agora ver tudo em tons de amarelo, sem um apontamento de verde - a minha cor preferida - não haver nas proximidades um pequeno arbusto onde nos possamos alçar, e ainda queimarmos as nossas mesmas plantas- as dos pés

DO AMOR INCONDICIONAL - 9 - DO DONO

«Foi um anticiclone que se acomodou entreparedes, no meu apartamento. Instalou-se sem pedir licença e nunca mais se alteraram as condições climatéricas. Quatro estações num dia, com fenómenos extremos inesperados. É o meu cão. Os filhos, a quem se deve perdoar tudo, para resolverem as suas questões internas, do foro íntimo ou talvez da moral, e apaziguarem alguma luminescência de remorsos nos corações, apareceram com ele em casa. Domingo, o dia instituído para cumprirem muito compreensivelmente a contragosto – não lhes calha em caminho compreende-se que transtorne o dia – a sua dose obrigada de fingimentos (sou injusto?) e preocupações muitas acerca da minha solidão e outras pieguices, que são suas e não minhas. O dia da visita, cada vez mais espaçada, cada vez mais apressada, e como os compreendo, a vida não tem contemplações com os que se sentam à beira do caminho. Há que estar sempre em movimento, o que já não é o meu caso, andei o que tinha para andar, agora