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Mensagens

Testemunha

Estou numa torre, só pode ser uma torre. A altura desta torre é enorme, estou suspenso nela, sei que tenho vertigens mas sou atraído involuntariamente para uma janela recortada numa parede irregular. Está a acontecer comigo o fenómeno magnético de atracção dos ímanes. Plasmado numa janela. Não distingo nada com nitidez. A força que me atrai a esta possibilidade de janela, não me autoriza a mexer um único músculo. Desagradável. Estou colado a uma janela porque pouco antes desse fenómeno involuntário ter acontecido, reparei num ponto de luz minúsculo na imensidão da parede vazia, onde um luar provável batia o pé às trevas da noite. E foi precisamente para esse ponto que fui sugado, só porque olhei para ele. ... Olho e pouco vejo, mas continuo cheio de vertigens. Acho que flutuamos. Eu e a torre? Nem sequer sei se estou numa torre ou num barco desgovernado. O balanço está na cabeça ou vem de fora de mim? ... Sinto que não estou sózinho. Estou numa sala, mas a jane

Geografias

Copenhaga, Tóquio, Jamaica, Europa, Shangri-la. Enumeração aleatória de lugares e regiões na geografia do mundo. Identificáveis com um dedo apontado num mapa mundi , menos o último, um paraíso, só reconhecível na imaginação. Na geografia de uma   rua cabe o mundo inteiro. Dá-se-lhe a volta em dez minutos, sem sair do fuso do tempo . Isabel percorre num vaivém contínuo, incansável, nómada errante na rua que tem todos os locais do mundo. Resgata marinheiros em compasso, na terra dos outros. Salva-os da monotonia do tempo que está em suspenso, antes de mais uma partida. Oferece-se, não se faz poupada. No calor da refrega apressada em lençóis de limpeza duvidosa, partilhados com outros pequenos ocupantes prováveis,   uma vez por outra, uma centelha de calor atinge o outro corpo , entremez na solidão dos afectos. Não sacia , dir-se-ia que reconforta ligeiramente, sem se dar por isso. Não faz da vida um novelo: alimenta o corpo, um baton e alguma cor estridente para os o
Está um grande dia. Só porque sim e sinto-me supimpa. Quero lá saber se o  sol cria cores extravagantes no céu, se o tempo fica quedo , dado a nostalgias parvas, se a brisa outonal se aquieta – só para mim porque não gosto de ventos - ou o calor está a ser   simpático para esta altura do ano. Tenho esplêndidos polos   com um animal verde colado ao peito   e camisolas de caxemira, que   põem o clima na linha, tal como eu quero. Não vou em sentimentalismos de se ficar a olhar para a paisagem. Fui banqueiro e por isso posso tudo! Está uma grande manhã porque tenho um magnífico chapéu panamá que protege os meus pelos ralos e lindos, abrilhantados e alinhados com todos os cuidados no sentido certo, por um pente de marfim, que são os melhores para pentear o cabelo, e porque estou a bebericar uma flute de champanhe francês que desconheço a marca – quero lá saber! - mas é o melhor porque posso e mando e é tão bom que me deixa neste estado de grande felicidade. O panamá e o

New Age

Com as juntas desgastadas e uma lubrificação fisiológica já insuficiente, artroses dolorosas e circulação sanguínea deficitária, a posição de lótus não é nada confortável. O estado meditativo não se compadece com   maleitas do corpo. É um bálsamo da Alma, mas os seus efeitos físicos não estão ainda devidamente documentados pela medicina baseada na evidência. “ Noblesse oblige ”, ofereça-se  a carne ao esforço para ganhar a vida eterna. O    dia desafia-se num corropio de actividades que tiram o peso do tempo e do espaço. Cumpre-se o roteiro do despojamento. Desquitada   de um cristianismo com cheiro a naftalina, deu por concluido o capitulo da profissão de fé,com o enterro do amantíssimo esposo, vai para seis anos na campa 357-AB no cemitério dos Prazeres, num local recatado.Nem sempre se tem ess a  sorte, dá gosto visitar e quem lá mora não   se queixa de humidades, o torreão dá de caras com o sol todo o santo dia. O contacto fugaz com a presença absorvent