Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2024

Aqui para nós

Ponderei maduramente se deveria escrever estas palavras e expor o meu pensamento a esta comunidade de Figueiró dos Vinhos, que tão generosamente me recebeu. São os meus receios e preocupações e considerei um imperativo moral de partilhar com os outros, e que isso possa entreabrir uma porta de reflexão, diálogo e opinião. Vivemos num país onde a democracia não cedeu lugar à existência do espaço público (esse espaço foi ocupado pelos meios de comunicação onde os comentadores são os mesmos políticos que comentam, numa lógica de circuito fechado), anfiteatro aberto onde os cidadãos, com espírito crítico e pensamento responsável, pudessem desenvolver os seus direitos de cidadania e opinião. Esse espaço inexistente, resume-se ao círculo mínimo dos convívios eventuais nos cafés e nos bares, aos chistes, nas festas das comunidades, mais em jeito de dizer mal por dizer mal, do que o sentido adulto de manifestar e dar a conhecer o pensamento pessoal para se frutificar na conversa, avançando

Adega dos Passarões

Imaginando o oeste longínquo - o faroeste -, salpica-nos como um instantâneo, a imagem do “ Saloon”, um local de encontro, bar, lupanar, uma hospedaria e residência penúltima antes da cova, dos que tinham o azar, ou a aselhice da lentidão, ou falta de acerto, na pistola pesadíssima que desembainhavam dos coldres pendentes nas ancas, e que chegavam com um atraso fatal ao momento do tiro, matando os desajeitados e reafirmando a vida dos que acertavam no momento devido no gatilho. Esse faroeste é o dos filmes dos vaqueiros, das terras sem lei, dos índios que tinham os melhores cavalos, selvagens como eles, os que melhor se vestiam, longas tiaras de penas vistosas, olhar indomável, mas eram os que perdiam sempre. Parece que existiam para isso mesmo: perderem ainda mais do que os desajeitados da pistola, que ainda assim eram brancos e estavam acima na hierarquia das espécies humanas criadas pelos deuses, e devidamente estratificadas, para não haver mais conversas nem atropelos de poder.

Fonte das freiras

  Ir rompe das entranhas da terra, força bruta, uma mina de águas. Grito de vida, apressado caudal desvairado, atrás da gravidade, vai dar de beber a outro mosteiro, de portas fechadas, restam os fantasmas dos seus habitantes contemplativos. No pequeno largo onde existe essa mina, existiu antes um convento de freiras em recolhimento e prece. O tempo é um carrasco imperdoável. Carne e o espírito esfumam-se, as obras de pedra e outras têm vidas mais prolongadas. Ficou uma parede com o recorte de janelas e portas, mas é só uma parede, de um lado e do outro o vazio, o nada, como que a dizer que tudo é efémero e em poeira se transforma. E isso nada tem de religioso, espiritual que seja, é uma evidência natural dos sedimentos do tempo. Nada mais. A alguns, atentos, sintonizados, poe-nos em sentido: a existência é curta, sejamos decentes, connosco próprios, com os outros, com o que encontramos nessa natureza tão esplendorosa que não merece aproveitamentos vãos, merece cuidados e afagos. N