Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2024

La Pigalle, Figueiró dos Vinhos

Alguém já disse, nos altos de muita sabedoria, ou de convívio privilegiado com os deuses, que as igrejas, sejam humildes capelas, sejam catedrais cheias de retorcidos gongóricos, são os eixos do mundo. Explicand: a querer dizer que os locais de culto foram construídos em pontos sensíveis do planeta terra, funcionando como pontos ou de convergência de energias ou de expansão das mesmas. O que explicaria serem lugares onde se experienciam sensações, que nos reconciliam e unem ao universo. Isto é o que alguém já disse, dizendo também que o sagrado, o espiritual, estava nisso, e daí a entrar-se numa polémica sem perspectivas de saída limpa, é um passo minúsculo. La Pigalle , é uma praça e um bairro, em Paris. A sua história picante começa em 1881 com a abertura do cabaret Gato Preto . Em 1885 Maxime Lisbonne (nome curioso) de regresso na Nova-Caledónia onde tinha sido condenado a perpétua e a seguir amnistiado, abre a Marmita, onde apresenta espectáculos ousados e acaba de inventar o st

O Homem da cigarrilha mortiça.

   U m Morgado, é o que é. Ou, parece que é. Acabado de entrar, ou de saída, de uma novela bucólica, romântica, um ambiente do campo, florzinhas, e zumbidos, e vida parada e pacata. Um personagem das Pupilas do Senhor Reitor, ou da Morgadinha dos Canaviais . Quase um lorde, visto ao longe. Todo o ano, indiferente a tanta coisa, que até ao tempo, às suas condições, de bom ou mau, ou ameno, com o mesmo atavio. Bota de carneira, ou imitando; calça escura que pode ter sido fazenda com uma cor específica, que já não tem; e casaco. De veludo. Já foi creme há muitos, muitos anos. No cocuruto, que bem enterrado, nela, na cabeça, uma qualquer coisa objecto. Pode que tenha sido um boné, uma boina, um simples gorro. Totalmente indiferenciado pelo uso contínuo. Dormirá com ele? É possível. Já não é um adereço, é um apêndice. E uma esplêndida – se não fosse despicienda no tamanho – cigarrilha. Não se vê fumo nem cheiro, apagada estará. Uma reentrância no ar vazio, colada à boca, que no se

O CANTOR MORREU

  Morreu-se, hoje, sem nenhuma justificação plausível e aceite que pudesse justificar essa perda, um homem difícil de qualificar. Em significações léxicas imediatas: “afortunado”, “feliz”. Fausto Bordalo Dias. Na corrente rebelde e por vezes crispada de uma chamada música de intervenção, dispôs-se a seu tempo e jeito, num educado recato, colocando-se na segunda fila dos protagonistas das fotografias todas. Com uma música e uma lírica, deslocadas, aparentemente dissonantes, da aspereza dos acordes e da palavra de intervenção e dura, nas modas dos tempos, a sua, a contrariar pela lisura poética, doce, de uma sensualidade que desarranja os sentidos. Um fenómeno de magnetismo. A convidar o ouvinte a percorrer numa só sessão e num concentrado de picos e limites de emoções sensitivas, todas as direcções da sua Rosa dos Ventos, uma cosmovisão muito à frente dos tempos, nós, ainda tímidos do usufruto de liberdades novas e desanuviamentos. Para mim: “O Despertar dos Alquimistas”.